O sertão paraibano vive um novo tempo. Um tempo em que a cultura deixa de ser apenas memória e passa a ser também estratégia de futuro — capaz de gerar renda, fortalecer identidades e reposicionar territórios historicamente pouco reconhecidos pelo mercado turístico. É nessa direção que nasce o roteiro “Raízes e Tradições do Sertão”, uma proposta de Turismo Cultural, Turismo de Base Comunitária (TBC) e Turismo de Experiência que conecta os municípios de Pombal, São Bentinho, Cajazeirinhas e São Bento em três dias de imersão na cultura viva, na ancestralidade e na criatividade sertaneja.
Mais do que um itinerário, o roteiro se apresenta como um pacto: colocar as pessoas no centro do desenvolvimento. O visitante não encontra “atrações” no sentido tradicional do termo, mas encontros — com comunidades, mestres, jovens, artistas e guardiões de práticas culturais que atravessam gerações. O turismo, aqui, não é espetáculo; é convivência. E o resultado é uma experiência de alto valor simbólico, emocional e comercial, capaz de dialogar com públicos como viajantes culturais, grupos pedagógicos, imprensa, agências e operadoras.
Turismo de Base Comunitária: o destino construído por quem vive o território
No coração do roteiro está o Turismo de Base Comunitária, um modelo em que a comunidade não é cenário, mas protagonista. Isso significa que a recepção, a narrativa, a organização e a geração de benefícios acontecem com participação direta dos moradores, fortalecendo autonomia local e garantindo uma relação mais justa entre visitante e anfitrião. No Vale dos Sertões, essa abordagem ganha forma especialmente nas vivências da Comunidade Quilombola Vinhas, em Cajazeirinhas, e da Comunidade Contendas, em São Bento — onde cultura, gastronomia, artesanato e história se unem em experiências marcadas por acolhimento e verdade.
A força do TBC está justamente no que ele preserva: o sentido das práticas culturais. Ao invés de adaptar a cultura ao turismo, o roteiro faz o caminho inverso: adapta o turismo à cultura, respeitando ritmos, pessoas, capacidades e identidades. O visitante participa com respeito, aprende com escuta e devolve ao território visibilidade, reconhecimento e circulação econômica.
O que o visitante vivencia: cultura, fé, paisagem e economia criativa
O roteiro oferece uma jornada que combina expressões culturais tradicionais, paisagens simbólicas, espiritualidade e produção artesanal. Em Pombal, a experiência começa com a visita ao Mercado Público e à Casa da Cultura, espaços que mostram a vitalidade de artistas e artesãos locais. Em seguida, a energia da Ginga do Sertão se apresenta na capoeira conduzida por mestres e jovens, culminando no Encontro dos Ritmos Vivos, que reúne grupos folclóricos como Pontões, Congo, Reisado e Irmandade do Rosário — uma celebração plural da ancestralidade afro-brasileira e sertaneja.
Em São Bentinho, o roteiro encontra a caatinga e a fé no Mirante da Serra, onde paisagem e contemplação se tornam parte da experiência, revelando o sertão como território de pertencimento e espiritualidade. Já em Cajazeirinhas, a visita à Comunidade Quilombola Vinhas evidencia a cultura como vida cotidiana: almoço tradicional e vivências culturais que incluem capoeira, teatro e dança afro conduzidas por jovens e lideranças locais.
Por fim, em São Bento, a imersão acontece nas Tradições Vivas da Comunidade Contendas, com visita ao museu comunitário, à casa do artesão e à gastronomia afetiva preparada pelas moradoras. O percurso se completa no Shopping das Redes, reconhecido como maior polo de redes de dormir do Brasil — um exemplo concreto de como tradição e economia criativa caminham juntas, gerando emprego, renda e orgulho local.
Por que apoiar esse roteiro é apoiar a cultura — e a economia
Apoiar o “Raízes e Tradições do Sertão” é fortalecer patrimônios imateriais que muitas vezes sobrevivem com pouco incentivo, apesar de sua enorme relevância social. Grupos culturais e comunidades que mantêm tradições como reisados, congos, pontões, capoeira, dança afro e expressões de fé popular passam a ter, com o turismo, um caminho sustentável para continuidade: não como “contratação pontual”, mas como produto turístico estruturado, com agenda, operação, valor agregado e retorno direto aos protagonistas.
Esse modelo amplia a geração de renda de forma descentralizada, pois a cadeia do turismo mobiliza cozinheiras comunitárias, artesãos, grupos culturais, motoristas, guias locais, meios de hospedagem, comércio e serviços. É turismo que circula no território, fortalece pequenos negócios e incentiva novos empreendimentos, criando oportunidades especialmente para a juventude — que passa a enxergar futuro onde antes via apenas saída.
Turismo com transversalidade: quando o desenvolvimento se conecta
A experiência do Vale dos Sertões evidencia um ponto essencial: o turismo é uma política transversal. Ele dialoga com cultura, educação, economia, cidadania e governança. O roteiro se torna instrumento pedagógico ao conectar estudantes à história e à cultura afro-brasileira; estimula a preservação do patrimônio ao fortalecer grupos tradicionais; movimenta a economia ao ativar serviços locais; e impulsiona a governança ao estimular municípios a estruturarem conselhos e instrumentos de gestão que profissionalizam o setor.
Reconhecimento institucional e compromisso dos municípios
A consolidação do roteiro é resultado de uma estratégia pública inteligente e colaborativa. Merecem destaque o Sebrae/PB e o Governo do Estado da Paraíba, que vêm impulsionando a formatação de rotas e roteiros por meio da metodologia dos Agentes de Roteiros Turísticos (ARTs), oferecendo suporte técnico aos municípios e aos empreendedores, sem custo direto para as prefeituras.
Também é fundamental reconhecer os municípios que apoiaram a construção do turismo como política permanente. Ao dialogarem com comunidades e empreendedores e ao assumirem o compromisso com organização e planejamento, Pombal, Cajazeirinhas, São Bento e São Bentinho avançam na direção de um turismo mais estruturado, participativo e alinhado às oportunidades do mercado.
Um primeiro roteiro, muitos próximos passos
Este primeiro roteiro estruturado contempla 10 atrativos turísticos cuidadosamente selecionados, representando a diversidade cultural e comunitária do território. Mas ele é apenas o início: o trabalho técnico em andamento prevê o lançamento de novos roteiros integrados, totalizando aproximadamente 50 produtos turísticos distribuídos pelos nove municípios do Vale dos Sertões. Essa expansão progressiva permitirá diversificar experiências, atender diferentes perfis de visitantes e consolidar a região como destino plural, competitivo e fiel aos princípios do turismo de base comunitária.
O “Raízes e Tradições do Sertão” é, portanto, mais do que uma rota. É a afirmação de que o sertão paraibano pode ser reconhecido por aquilo que tem de mais poderoso: suas pessoas, suas culturas e sua capacidade de transformar tradição em futuro.

































